quinta-feira, 2 de julho de 2009

Um novo texto do livro

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O PEIXINHO
Era uma vez um peixinho dourado.
Vivia num aquário com a família. Tudo lá era de plástico. Um escafandrista de plástico, um bauzinho e areia de plástico, pedrinhas e algas de plástico, um cavalinho marinho de plástico. Tinha também uma bombinha de plástico que fazia glu-glu o tempo inteiro.
Certo dia o peixinho perguntou ao pai por que também eles não eram de plástico. O pai pensou, pensou e respondeu: “Porque nós temos vida”. O peixinho não ficou satisfeito, e emendou outra pergunta: “O que é vida, papai?”
O pai do peixinho ficou embaraçado. Como explicar o que era vida. Ele nunca tinha feito a si mesmo semelhante pergunta, e foi honesto:”Papai ainda não sabe, mas vai pensar e depois, se achar uma resposta, te explico”.
O pai do peixinho passou o resto do dia triste, escondido atrás de umas pedrinhas de plástico. O peixinho, vendo o pai daquele jeito, pensou:”Acho que esse negócio de vida deve ser uma coisa muito séria”.
Depois de passar a noite acordado pensando, o pai do peixinho o chamou e disse: “Vou te contar uma história que define o que é vida. “Foi meu pai quem me contou, que ouviu do seu bisavô, que ouviu do seu trisavô, que ouviu do seu tetravô, que antes de viver num aquário igual a este, nasceu e cresceu num rio”.
- Um rio, papai? O que é isso?
- Eu nunca vi, meu filho, mas vou descrever o que meu pai me contou. Rio é um aquário gigante, sem fim, você pode nadar pra todo lado. Sua liberdade é infinita. Lá nada é de plástico. Existem peixes de todo tamanho, bichos feios, bonitos, grandes, pequenos, que nadam, comem, têm filhos, avós, bisavós, iguais à gente. As algas crescem , se multiplicam e morrem. As pedras servem para os peixinhos iguais a nós se esconderem de outros grandes que podem nos comer.
- Nos comer, papai?
- A vida é assim, meu filho. Lá há liberdade, mas corremos perigo e temos de nos proteger.
- Mas ter liberdade, ver tanta coisa bonita e diferente deve valer a pena. Então aqui nós não temos vida, papai.
- - De certo modo temos e, de outro, não.
- Que complicado, papai. Pode dizer que não temos.
O peixinho dourado começou a sonhar com o rio, com a liberdade, com outros animais, até que um dia ele juntou todas as forças que tinha e pulou para fora do aquário, na esperança de encontrar a vida.

Um comentário:

  1. Metaforicamente há tantos peixinhos humanos fazendo a mesma coisa. Ficam esperando que os pais tenham respostas sobre um monte de coisas. Os pais, guerreiros cansados, esfolados pela lida, querem que os filhos tenham juízo, que se resignem com as bolas de ferro atadas aos calcanhares. Só que os jovens amam a liberdade mais que tudo...e mesmo que os pais alertem sobre os perigos...um dia pulam pra fora do aquário.

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