quinta-feira, 16 de julho de 2009

Uma pequena crônica

HAPPY HOUR



Estavam todos, como há muito faziam, na varanda do bar do clube. Era o papo alegre e descompromissado dos fins de tarde das sextas.
Um deles olhou para uma das quadras de peteca e lembrou-se do colega.
- E o Gil? Temos que ver como ele está.
- É mesmo, não seria bom telefonar pra ele vir tomar uma com a gente? Afinal, a mulher morreu, mas ele continua vivo.
- Não sei. Tem só uma semana da morte.
- Bobagem, tem aí o telefone dele?
- Alô? Gil? Umberto. Estamos no bar. Dá um chego aqui. Estamos todos te esperando.
- Adivinhe onde estou?
- Sei lá. Em casa?
- Estou vendo vocês todos daqui.
O colega percorreu o clube com os olhos, virou-se, mirou a porta.
- Seu filho de uma puta.
Esta reação fez com que todos olhassem na mesma direção e quase que simultaneamente eles se levantaram e foram em direção à porta. Alguns deles o receberam com abraços esfuziantes, movidos pelos primeiros efeitos do álcool, outros constrangidos, sem saber se dariam os pêsames ou se assumiriam a alegria dos encontros, limitavam-se a um tapinha nas costas seguidos do “que bom te ver”. Logo, porém, relaxaram, ao sentirem a alegria e leveza do colega.
Rodada geral de chope. Tinham que brindar. Mas o quê? Um deles, solteirão incorrigível, animado pelo álcool, levantou o caneco: ao novo membro da confraria dos livres e desimpedidos. Surpresa geral. Todos os olhos convergem para o viúvo recente. Silêncio. Gil olha para todos levanta o caneco e grita: viva a alegria, viva a liberdade. Maior surpresa ainda.
Um deles rompe o silêncio e grita: urra. Um alívio toma conta de todos, que gritam quase em uníssono: urra! Viva a liberdade! Era a senha necessária para que as águas voltassem, normais, a seu leito.
O papo continuou sobre assuntos que habitualmente conversavam, até que chegaram ao tema preferido pela turma: mulher.
Os olhos convergiram novamente para Gil que, ao sentir que era o centro das atenções, levanta-se para falar.
- Gente, gente. Quando estava vindo para cá, tive uma idéia maluca. Agora quero me tornar o bom samaritano.
- Pára com isso Gil. Bom samaritano?
- Calma, explico. Não é nada disso que vocês estão pensando. Vou me dedicar às mulheres mal amadas.
- Porra, Gil! Mulheres mal amadas? Em geral são umas chatas, - retrucou o solteirão empedernido.
- Que é isso! Boa idéia Gil! Com pouco carinho, elas ficam de quatro, disse o mais experiente.
- De quatro? É uma boa posição. Vocês já experimentaram? aconselhou o sexólogo da turma.
- Deixa eu terminar, gritou Gil. Acho, realmente, que as mal amadas são as mais fáceis de se cantar, mas o bicho é reconhecê-las na multidão daquelas que possam me interessar. Pra isto é que eu preciso da ajuda de vocês. Quero estabelecer critérios.
- Qual é Gil? Você é PhD nisso.
Todos os olhos se voltaram para o autor da frase e depois para o viúvo, um silêncio constrangedor se estabelece até que a angústia é rompida por uma chamada:
- Pô, gente, vamos embora, está quase na hora do jogo do galo.

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